Bem, não sei se ia morrendo mesmo ou não, mas ia tendo um acidente sério de carro - nunca estive tão perto de ter um acidente tão sério. Valeu-me a minha agilidade e talvez, penso, a agilidade de um outro condutor. A segurança dos carros (o meu boguinhas tem 18 anos, gasta imenso gasóleo, não tem grandes modernices, mas nunca me deixou ficar mal). Talvez a influência de um anjo da guarda - sim, aquilo foi de tal forma assustador que até considerei essa hipótese - logo eu, que sou céptica até à medula.
Mas depois do susto, depois de ter pensado "porra, a vida já corre de forma espectacular (ironia), era só o que mais faltava, partir-me a mim e ao carro a pouco mais de uma semana de me meter num avião", pensei "fogo, esta foi por pouco".
Não morri. Mas pensei "e se tivesse morrido?"
Se tivesse morrido, tinha passado o último mês da minha existência meio depressiva. E isso só tornaria a minha morte ainda mais triste. Porque shit happens - e parece que o último mês foi cheio dela - e eu deixo que isso influencie mesmo a minha vida. Não aproveito o que a vida tem de bom, deprimo, tenho medo. Preocupo-me, sou impaciente.
É normal, também, ser assim. É normal assustarmo-nos, preocuparmo-nos. Porque a vida não espera. Mas a morte também não. E isso é ainda mais assustador.
Sim, vou continuar a preocupar-me. Sim, vou continuar ansiosa. Mas sim, também vou relativizar. Também vou tentar não desesperar. Vou tentar não ser impaciente. Vou aproveitar.
Tudo isto é um lugar-comum. Não é nada de novo. Mas é o que me apetece escrever ;)
Dizem que a "sorte protege os filhos da luta". Acho que o objectivo desta frase é dizer que não basta esperar que as estrelas e a lua se alinhem, não basta esperar que haja algo não imediatamente identificável que nos ajuda a andar para a frente, mas que a sorte se constrói com trabalho, esforço. Não é aleatório.
Mas às vezes, acho que não. Às vezes, acho que isto da sorte é um bocadinho aleatório, sim, independentemente do esforço que cada um imprime no seu trabalho, na sua vida.
Às vezes, acho que a sorte chega a quem nunca fez nada de jeito e, mesmo assim, com contactos, com o "estar no lugar certo à hora certa", com o alinhamento das estrelas, consegue atingir determinadas coisas. Mas depois, para compensar o universo, há aquelas pessoas que sempre fizeram tudo bem, que estudaram, trabalharam, e acabam sempre por ser vítimas do "azar". E isso, perdoem-me o vernáculo, é uma merda. É injusto. É triste. É revoltante.
Às vezes, acho que existem 4 tipos de pessoas.
Tipo I - Pessoas que trabalham e têm o seu esforço reconhecido. Embora alguns digam que é "sorte" (e admito que pode haver alguma, por, por exemplo, as condições proporcionarem determinadas situações), acho que mais do que sorte, se trata de justição - é o reconhecimento devido pela sua dedicação.
Tipo II - Pessoas que nunca fizeram muita coisa, não são particularmente inteligentes, mas que conseguiram ter oportunidades e aproveitá-las. Aqui sim, tratar-se-á de sorte. E é injusto, muito injusto.
Tipo III - Pessoas que nunca fizaram nada de jeito, nunca se esforçaram, e têm a retribuição por isso. Também me parece justo.
Tipo IV - Pessoas que sempre fizeram tudo bem, que sempre se esforçaram na escola, na universidade, no trabalho. Que excedem expectativas, que cumprem tudo aquilo que é devido. E que, mesmo assim, nunca conseguem atingir os seus objectivos. Que, mesmo assim, não saem da cepa torta. Porque as condições não o proporcionam. Porque a sorte não os atinge, só o azar. Porque a sorte nem sempre protege os filhos da luta.
Ontem, enquanto estava no banho, dei por mim a reflectir sobre a Felicidade (claro, é sempre quando estamos no banho ou a querer dormir que temos estas grandes reflexões filosóficas).
O que é a Felicidade? Será que a Felicidade é mesmo uma escolha, como tantos gostam de dizer?
Às vezes, eu acredito que sim. Que somos nós, face às situações que nos vão surgindo na vida, que vamos escolhendo a forma como vamos lidando com elas e a forma como elas influenciam a forma como vamos vivendo. Às vezes, e não tendo só a ver com a "Felicididade", acredito que somos nós que, face às vicissitudes da vida e ao nosso passado, escolhemos a forma como queremos viver. Se queremos viver "apesar de" ou se queremos viver "porque".
No entanto, e estando agora num momento da minha vida ligeiramente reflexivo, dou muitas vezes por mim a pensar que se calhar, querer ser feliz, por si só, não basta. Eu quero ser feliz. Eu quero muito ser feliz. No entanto, alturas há em que reconheço que o querer ser feliz não é suficiente. E reparem, são alturas em que não acontece nada de especial para ficar menos feliz. São simplesmente alturas em que por mais que eu queira, em que por mais que eu faça por ser feliz, por mais que eu diga que eu tenho mais razões para ser feliz do que para ser infeliz, sinto que isso não é suficiente. Sinto que tem que haver mais qualquer coisa, não necessariamente externo, para conseguir atingir essa felicidade.
Se calhar, para além do querer, existirá também além alguma predisposição genética para sermos felizes. A verdade é que nós somos uma conjugação entre contexto e genética e, como tal, a Felicidade não foge deste jogo. Se calhar, algumas pessoas (e não falo de mim), por mais que queiram, por mais que lutem, nunca conseguirão atingir essa felicidade que é uma escolha.