Ontem à noite vi o Lion, um dos outros grandes filmes do ano. E este posso dizer que gostei. Senti-me um pequeno coração de pedra, porque só oiço falar de pessoas que choraram do início ao fim, e eu nem uma amostra de lágrima verti. No entanto, senti um aperto no coração, pelo que posso dizer que se calhar não sou um caso perdido e é possível que haja aqui alguma dose de sensibilidade.
O filme é muito bom e está muito bem interpretado. A história, verídica, é, efetivamente, angustiante. É sobre perdermo-nos, sentirmo-nos perdidos, e encontrarmo-nos. É sobre a importância do nosso passado, de sabermos quem somos, de onde viemos, quem são os nossos. É sobre a importância de conseguirmos estabelecer ligações. É sobre o amor que percebe, que compreende, que tenta ultrapassar todos os obstáculos.
É curioso, porque acho impossível não nos relacionarmos, de certa forma, com o filme - embora a maioria de nós, felizmente, nunca tenha passado por nada que se assemelhe à história do filme. Mas todos nós reconhecemos a importância de sabermos quem somos e das nossas origens. E todos nós, embora de maneira diferente e por razões distintas, lutamos por sabermos quem somos.
Para mim, dos três filmes que vi nomeados para os Óscars, este foi, sem dúvida, o que gostei mais (embora ainda queira dar uma segunda tentativa ao Manchester by the Sea).
Depois de o "Spotlight" ter vencido o Óscar de melhor filme, achei que fazia todo o sentido ir vê-lo ao cinema. Foi uma boa decisão.
Depois de ter ganho o Óscar, a minha opinião - ou posta de pescada - pode parecer um bocado idiota. Quer dizer, se já ganhou o prémio máximo, o que é que eu posso dizer que o possa valorizar ainda mais? Mas, ainda assim, não me abstenho de comentar.
É um filme excelente. Pela história, pelo que nos mostra do caso de pedofilia, pelo que nos mostra do trabalho jornalístico, pelas interpretações.
Mas vamos por partes.
Pedofilia
Assim de repente, a pedofilia é, para mim, um dos piores crimes que podem ser cometidos, se não mesmo o pior. E sim, podem-me falar em perturabação mental e o camandro, mas eu não quero saber. Pedofilia é crime, é nojento, e eu tenho ideias muito pouco católicas sobre o que podia ser feito aos pedófilos. E esta opinião aumenta quando sei que a pedofilia é praticada por certos tipos de grupos de pessoas, como o Clero. São Padres, pessoas que deviam ser confiáveis, pessoas cuja importância, especialmente em certos tipos de comunidades, é fulcral. São Padres, pessoas que, para certos grupos, são os representantes de Deus, essa figura tão importante, na Terra. Como uma das vítimas dizia no filme, o facto de ter sido abusado por um Padre não signfica "só" a perda de confiança numa pessoa de carne e osso, não significa só a vergonha, a culpa. Não significa só o nojo. Significa, também, a perda de fé. Eu não sou uma pessoa religiosa, não sou católica, não sou nada; no entanto, respeito a fé e considero-a uma das coisas mais importantes que quem a tem, tem. E tirarem essa fé, porem em causa uma crença tão importante, é terrível. Contudo, talvez não tão horrível como destruírem a inocência, violarem a intimidade, de uma criança. Pedófilos, para mim, era... Enfim, melhor não dizer.
Trabalho jornalístico
Eu adoro jornalismo. No Secundário segui Humanidades com o objetivo de ingressar num Curso Superior de Jornalismo. E adoro, sobretudo, jornalismo de investigação. Acho interessantíssimo todo o trabalho, toda a dedicação, que leva meia dúzia de profissionais (ou um profissional) a pegarem num assunto sério, investigarem-no e esmiuçarem-no até ao limite para levarem uma boa história, uma história interessante, com valor, à população, que merece ter conhecimento desses temas. E por isso este filme também é tão interessante - porque nos mostra esse lado do jornalismo, com todas as suas dificuldades Esse lado por vezes esquecido, ultrapassado por um "jornalismo" sensacionalista, que não se preocupa com a veracidade dos factos mas com o sangue que pode surgir.
Interpretações
Muito muito boas. Eu tenho uma pequena paixão platónica pelo Mark Ruffalo e acho que ele está francamente bom neste filme. Mas não é o único. Estão todos, todos, óptimos.
É, mesmo, um filme que vale a pena ver. É um pequeno murro no estômago, sem dúvida, mas vale muito a pena.