O Mundo do Trabalho em Portugal
Ora então vamos lá...
Situação 1
Ontem uma colega de trabalho contou-me, quase em segredo de estado, que está grávida. Porquê o segredo? Porque ainda não fez os primeiros 6 meses de trabalho e tem medo que se souber antes, a mandem embora. Porque é que me contou? Porque trabalhamos juntas, porque tem andado a passar muito mal e porque eu posso ter que assumir trabalho dela a determinada altura. E porque confia em mim - o que faz bem, aliás.
Situação 2
Ontem falei com uma ex-colega de trabalho, da empresa onde eu estive antes e que foi dispensada pouco tempo antes de eu ter saído. Quando ela saiu, não soube a razão. Soube agora. Então... A "team leader" dela virou-se para ela e disse-lhe "já sei que tens um 'amiguinho colorido' na empresa X [a maior concorrente da empresa]". A minha ex-colega não gostou do termo prejurativo, disse que ninguém tinha nada a ver com as relações dela fora do trabalho e que não admitia que lhe faltassem ao respeito, porque ela nunca tinha faltado ao respeito a ninguém. O que é que a nossa empresa fez? Como tinha medo que ela lhe passasse informações, porque são de empresas concorrentes, disseram-lhe para ir para casa, que lhe continuavam a pagar e que no final dos 6 meses do contrato (os contratos são a termo), não renovavam.
Face a estas duas situações, só me apraz dizer WHAT THE FUCK?! ESTÁ TUDO MALUCO? MAS QUE MERDA É ESTA?
Situação 1
Infelizmente, ouvimos situações destas todos os dias. Mulheres que têm medo de engravidar, mulheres a quem nas entrevistas é perguntado se têm filhos ou se tencionam engravidar, mulheres que escondem gravidezes, mulheres que são ilegalmente despedidas por estarem grávidas, mulheres que sofrem outro tipo de represálias por terem cometido a ousadia de quererem propagar a espécie. Mas tendo um contacto tão directo com uma situação destas, faz-me pensar que, realmente, é uma vergonha, uma tristeza. Que país é este? Que país é este que não apoia quem queira ter filhos? Que país é este que apenas dá 4 meses de licença de maternidade de maternidade e se alguém quiser cometer a ousadia de querer ter mais já não tem direito ao seu vencimento total? Que dirigentes políticos são estes, que patrões são estes? Que país vai ser este? Não vejo isto como uma luta feminista - ou, pelo menos, como uma luta exclusivamente feminista. Vejo isto como uma luta do ser humano, dos cidadãos, da cidadania. Ninguém devia deixar de ter filhos por causa disto. Homem ou mulher. Ninguém. Porque quem perde, somos todos nós.
Situação 2
Nem sei que dizer. Ridículo. Podre. Histérico. Insegurança. A roçar a ilegalidade, possivelmente. Vergonhoso.