Depois da "Vidente", sabia que não ia demorar muito até ler o livro seguinte da série. Até porque, embora o caso da Vidente tenha ficado resolvido, outro caso, da história pessoal de Jonna Linna, ficou bastante - bastante mesmo - em aberto. E portanto, sabia que assim que tivesse tempo o iria ler. Não foi exatamente "assim que tive tempo" (porque li outros livros antes), mas foi na semana passada.
Gostei. Mais uma vez, foi um livro de leitura bastante rápida, que se lê num fôlego. Foi um livro que se centrou precisamente nesta história pessoal do Joona Linna (até aqui, os outros livros tinham um caso de polícia independente desta história; aqui, a resolução do "caso" é a história do Joona Linna - espero não estar a spoilar muito), o que foi bastante interessante, na medida em que nos ajudou as razões dos seus "fantasmas" - apesar de isso ter começado a ser deslindado já na Vidente.
Apesar de ter gostado, existiram alguns aspectos que me fizeram torcer o nariz. Como aquela coisa de salvar alguém literalmente no último segundo - irrita-me SEMPRE quando isso acontece -, ou o facto de o final e a explicação de tudo ter parecido, às tantas, demasiado rebuscada. Mas pronto, fez algum sentido, não foi completamente despropositado.
No entanto, e apesar de ter gostado, o que mais me aborrece, na verdade, relaciona-se não só com esta série mas, também, com outra série de policiais nórdicos que ando a ler (não vou dizer qual para não correr o risco de spoilar nenhuma das duas). Cheguei à conclusão que em ambas as séries as duas personagens principais têm um mesmo problema - exatamente o mesmo problema. Têm outros problemas, é verdade, mas um dos problemas centrais é exatamente o mesmo. Terá sido coincidência? Se não, quem terá imitado quem? Fica a questão.
Ainda assim, tal como disse no início, gostei. E já comprei o livro seguinte da série, o "Stalker" XD Eu tenho um problema com livros, ah ah :P
Depois de ter lido o livro "Matéria Escura", de Blake Crouch, decidi que queria dar uma hipótese à trilogia Wayward Pines. Como disse na minha posta de pescada, tinha visto a primeira temporada da série de TV, gostei muito durante uns episódios, mas depois a coisa descambou e fiquei mesmo desiludida.
Mas pensei, depois de ler a Matéria Escura, que se calhar devia dar uma oportunidade ao Wayward Pines. Afinal, se os filmes são sempre piores do que os livros (salvo algumas excepções), então as séries de TV também podem ser.
Dito e feito. Pedi ao meu namorado que me encontrasse a versão original e-book (não quero mais traduções) e só não devorei em menos tempo porque, bem, não tive tempo. E a verdade é que gostei bastante. Muito bem escrito, e com a capacidade de manter o leitor em suspense (mesmo o leitor que, como eu, já sabia mais ou menos a história). A verdade é que existem algumas diferenças entre a série e o livro e embora as situações que me fizeram deixar de gostar tanto da série também apareçam no livro, a verdade é que aqui não pareceram tão despropositadas. Fizeram sentido.
Gostei bastante e estou ansiosa por ler os outros dois. Agora não tenho lido nada (tenho ocupado as minhas viagens de transportes a ler artigos para as últimas avaliações da Pós-Graduação - parece que as últimas são as mais difíceis, arre!), mas assim que er a trilogia completa, tentarei escrever mais sobre o assunto :)
Acabei de ler, na segunda-feira, o livro "A Vidente", de Lars Kepler (na verdade, o pseudónimo de uma dupla de escritores suecos: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril - quão giro é ele chamar-se Alexandre e ela Alexandra? E sim, ela é "metade" portuguesa: aparentemente, a mãe dela mudou-se para a Suécia nos anos 60 para casar com o pai dela...). Eu bem disse que com esta história de demorar uma hora de transportes para ir para o trabalho e outra hora para voltar, best case scenario, iria ler muito mais :)
Gostei imenso do livro. Este é o terceiro de uma série Policial e foi o melhor, desta série, que li até agora e que me fez pensar "ainda bem que dei o benefício da dúvida!".
Apesar de ter desconfiado, numa fase muito inicial, quem teria sido o autor do crime, o livro conseguiu prender-me. De leitura rápida, queremos avançar, avançar, avançar, para percebermos as ligações, para vermos os desenvolvimentos, para perceber se, de facto, era aquele o verdadeiro assasino (e era :P ). Muito bem escrito, sem incongruências (embora tenha havido ali uma pequena parte, muito pequena, 3 linhas, que eu não consegui perceber e que não fez grande sentido. Talvez o problema tenha sido meu, mas não sei..).
Uma característica dos livros desta série prende-se com o facto de os capítulos serem muito pequenos (mas mesmo muito pequenos), o que nos deixa sempre na expectativa do que vai acontecer a seguir. E a verdade é que este livro conseguiu fazê-lo melhor que os dois anteriores. As personagens apresentavam alguma complexidade (tanto as que aparecem unicamente neste livro como as permanentes), com passados misteriosos, e isso serviu para nos ajudar a seguir em frente. Intrigante, sem dúvida.
Mas o mais interessante, sobretudo porque já tinha lido os dois primeiros, foi ter deslindado um pouco sobre a vida da personagem principal. E o melhor? Deixou-me super curiosa acerca do seguinte. Eu tenho um problema e assim que puder, vou comprá-lo :P
No fim-de-semana acabei de ler o livro Matéria Escura, de Blake Crouch. Este escritor foi o autor da série Wayward Pines, que deu origem à série de TV, uma das minhas grandes desiluões de 2015. Estão a ver aquelas séries que têm tudo para correr bem, estão a correr lindamente, e depois simplesmente descambam sem percebermos muito bem como nem porquê? Foi mais ou menos isso que aconteceu. Mas adiante, não é sobre isso que vim escrever.
O objetivo deste post é falar sobre o livro. Que... Gostei imenso (embora tirasse a componente extremamente lamechas) :)
A história do livro baseia-se naquela ideia que, certamente, já nos passou a todos pela cabeça. Os "E SE". E se a determinada altura da nossa vida tivéssemos optado por outro caminho em detrimento daquele que acabámos por seguir? E se, na verdade, o universo fosse constituído por diversos "universos alternativos" em que os nossos eus, que optaram por caminhos diferentes, continuassem as suas vidas da mesma forma que nós continuámos as nossas?
Admito que este tema é algo que me interessa bastante. Não por uma questão física (que não é, de todo, o meu forte. Aliás, na verdade, embora soubesse que isto até é uma área estudada pela Física, nunca me debrucei muito sobre a temática a partir dessa perspectiva), mas por uma questão filosófica. A verdade é que, inutilmente, eu sei, eu penso frequentemente nos "E se" da minha vida. É inútil, mas é um exercício giro. Bem, na verdade, não é completamente inútil. Porque às vezes ajuda-me a ver as coisas de uma perspectiva mais positiva, ah ah!
Mas voltando ao livro... Gostei imenso, como já disse. Está muito bem escrito (ou, pelo meos, a tradução estava bem feita) e tem a capacidade de nos prender do início ao fim. Aliás, no fim, ficamos com aquela sensação do "mas já? Então e agora?". Acho que para tal também contribui o facto de o livro ter terminado com um cliffhanger. Então mas o que é que acontece a seguir? Então mas...
Pronto, vou parar. Está muito bem escrito, com uma narrativa bem construída. Era muito fácil, tendo em consideração a história, o autor ter-se perdido e ter entreado em incogruências ou a própria história ter descambado. Mas não julgo que isso tenha acontecido, muito pelo contrário. Manteve a sua linha narrativa de forma congruente, desenvolveu bem a história, envolveu suspense, deixou-me presa e ansiosa por acabar e, ao mesmo tempo, desejosa que continuasse depois de acabar XD
Acabei de ler, algures na semana passada, o livro Hollywood, de Charles Bukowski. Foi o primeiro livro que li do autor e posso dizer que gostei, mas não adorei.
Estava à espera, muito honestamente, de algo mais "obscuro". Sim, foi um livro interessante, que nos leva a algumas reflexões sobre os caminhos que a leva leva; sim, foi um livro interessante, pela sátira presente; sim, foi um livro interessante pelos momentos de humor negro que nos proporciona. Mas esperava algo mais. Não sei dizer exactamente o quê, mas esperava.
Acredito que o facto de ter lido uma versão brasileria (este li no Kindle) também não tenha ajudado. É engraçado, porque a maioria dos livros que leio são traduzidos, mas a leitura do Português de Portugal é completamente diferente da leitura do Português do Brasil. Nada contra, atenção, mas ali penso que algo se perdeu na tradução.
Ainda assim, não desisti do autor. Tenho mais um dele para ler (também no Kindle) e hei-de o ler nos próximos tempos!
Acabei de ler, no fim de semana, A Amiga Genial, de Elena Ferrante.
Antes de falar sobre o livro em si, acho interessante falar um bocadinho de Elena Ferrante. Quer dizer, não é possível falar muito sobre ela, uma vez que, na verdade, Elena Ferrante nem sequer é o verdadeiro nome da autora, mas sim um pseudónimo. A autora tem querido manter o seu anonimato e tem conseguido, apesar de no Outono do ano passado, um jornalista ter escrito um artigo em que revelava a sua identidade. Se era verdade ou não, não sei.
O que sei é que esta história fez-me interessar pelo livro. Isso e, claro, as críticas bastante positivas. Explicando um bocadinho, A Amiga Genial é o primeiro de uma série de 4 livros que contam a história de duas amigas de Nápoles nascidas no pós-Guerra, Elena e Lila, desde a infância até à velhice. A Amiga Genial passa-se, então, entre a infância e a adolescência.
De uma forma geral, gostei do livro. Está muito bem escrito, a forma como a história é narrada é interessante e as personagens estão muito bem construídas. Apesar de a história se desenrolar há mais de 50 anos, acho que é impossível não nos identificarmos, pelo menos uma vez, com aquilo que as personagens vivem e experienciam, sobretudo se formos raparigas e tivermos tido uma amiga, uma grande amiga, com quem crescemos. É verdade - enquanto lia a história, não consegui deixar de pensar em mim com aquela idade e na minha grande amiga. Não conseguimos também deixar de pensar no nosso próprio crescimento e desenvolvimento.
A história e a forma como o livro está escrito permite-nos um forte envolvimento com as persongans. Às vezes irritam-nos, às vezes faze-nos felizes, às vezes temos pena delas. E quando um livro consegue isso é porque, penso, o livro é bom e vale a pena :)
Foi um livro bastante interessante. Tendo fugido um pouco do registo que tenho lido nos últimos tempos, estava à espera de demorar a entrar na sua leitura; contudo, não aconteceu. Agora... É ler os seguintes ;)
O Homem Ausente é o terceiro livro da série Sebastian Bergman, dos autores Michael Hjorth e Hans Rosenfeldt. Li os dois primeiros (Segredos Obscuros e O Discípulo) no ano passado e adorei. Mesmo. São policiais suecos, que desde a Trilogia Milenium estão na moda, mas com uma particularidade que a mim me atrai bastante: a personagem princial, o Sebastian, é psicólogo (e um psicólogo cheio de problemas), o que faz com que a resolução dos crimes passe pela componente psicológica. O que é muito interessante, claro.
Embora tenha adorado os dois primeiros, a verdade é que este último não me aqueceu tanto o coração. Não percebi logo porquê (será porque as personagens já se tornam repetitivas? Não... A história pessoal das personagens também é desenvolvida neste livro. Será porque eu não estou com a disponibilidade mental para gostar deste livro como gostei dos outros e o meu humor de cão acaba por prejudicar a sua apreciação? Também não deve ser por isso, porque quando li o primeiro o meu humor também era de cão - embora por razões completamente diferentes). Até que percebi - neste livro, ao contrário dos outros dois, não existe a necessidade/possibilidade de se chegar a alguma solução através dos conhecimentos do Sebastien. Neste livro, ao contrário dos outros, a Psicologia não entra tanto em acção. Não me interpretem mal - não gosto assim tanto de Psicologia para achar que os livros só são interessantes se a Psicologia entrar, de alguma forma, neles. No entanto, em relação a outros policiais suecos, isto (ou é isto) é um dos aspectos que diferencia esta saga.
Ainda assim, gostei bastante. Está bem escrito, não existem diálogos forçados (o que aconteceu, por exemplo, n'A Princesa de Gelo, da Camilla Läckberg - o pior policial nórdico que li... Peço desculpa aos fãs!), a história desenvolve-se rapidamente e as personsagens também crescem. Tem suspense - bom suspense -, que é capaz de nos prender pela noite fora - o que é óptimo!
Mas o grande ponto alto do livro foi mesmo o final. Não quero entrar em spoilers, mas que grande clifhanger! Estão a ver quando uma temporada de uma série acaba e vocês ficam "mas... NÃÃÃÃÃO!!! O QUE É QUE ACABOU DE ACONTECER? O QUE VAI ACONTECER?"? Pronto, foi mais ou menos isso. Com a diferença que numa série nós acabamos por saber que dali a 2/3 meses, a série regressa. Eu não faço a mínima ideia de quando o quarto livro da série, que já foi editado em Sueco, vai ser editado em Português.
Resumindo e baralhando - gostei e aconselho. No entanto, para lerem como deve ser, leiam primeiro os dois livros anteriores.
Acabei de ler, ontem à noite, As Raparigas, de Emma Cline. O livro é, na verdade, uma história de ficção baseada no caso Charles Manson e nas jovens que o ajudaram a cometer o famoso massacre em 1969 que vitimou, entre outros, Sharon Tate, grávida, atriz e mulher de Roman Polanski.
Muito sinceramente, fiquei com sentimentos ambivalentes em relação ao livro e pensei que talvez fosse prematuro escrever já a minha posta de pescada. Talvez tivesse sido melhor deixar assentar poeira, refletir mais sobre o assunto, chegar a alguma conclusão; contudo, pensei que se calhar aquilo que me deixa ambivalente não será alterado e que a minha opinião se irá manter. Por outro lado, não tinha outras ideias para o post de hoje, ah ah :P
Por um lado, gostei muito da forma de escrever da autora. A sério. É o primeiro livro dela, que tem a minha idade, e a verdade é que se eu escrevesse um livro, gostaria de o escrever daquela forma. Tenho o sonho, admito, de um dia escrever um livro (mesmo que ninguém o leia) e o estilo de escrita de Emma Cline é semelhante àquele que eu imprimo (ou tento imprimir. Ou gostaria de imprimir, vá. Ainda tenho que escrever muito e aprender muito para escrever assim) nos meus textos mais "romanceados".
Por outro lado, considerei bastante interessante a forma como ela retrata os sentimentos e as emoções vividas e experienciadas por uma adolescente de 14 anos. Existe muito a ideia de que uma pessoa com 14 anos é uma criança mas, muito honestamente, acho isso só paternalista e condescendente (e eu não gosto nada de paternalismos). Acho que é uma desvalorização brutal daquilo que é possível sentir-se nessa idade. O desconhecimento, as dúvidas, as questões sobre quem somos, o sentimento de incompreensão. A ideia de que ninguém nos compreende, de que não pertencemos a lado nenhum. E a autora retratou muito bem essas questões - talvez porque ela seja muito jovem (vamos acreditar que sim, que aos 27 anos ainda se é muito jovem, até porque eu não estou nada em pânico com o aproximar veloz dos 30. Nada) e passou por essa fase há relativamente pouco tempo - eu diria, pela minha experiência, que foi ontem.
E a compreensão da existência desses sentimentos é importante para que se perceba o porquê de uma jovem de 14 anos acabar por entrar num determinado mundo e acabar por tomar certas decisões. Porque é fácil, para quem está perdido, sentir-se deslumbrado por quem lhe indica um caminho muito mais interessante do que aquele que nos é apresentado.
No entanto, penso que talvez haja aspetos que poderiam ter sido mais desenvolvidos. As relações na comunidade, as histórias das personagens. São personagens que o leitor assume serem psicologicamente complexas mas, no entanto, esta "complexidade psicológica" não é assim tão desenvolvida. Eu sou uma rapariga que estudou Psicologia, gosto disto ;) Para além disso, julgo que a própria história poderia ter sido mais desenvolvida. Sem querer spoilar muito, há um período de tempo, anterior ao massacre e que leva a esse momento, que é pouco explorado. De repente, há uma mudança de sentimento e há um massacre - ok, mas e o que aconteceu no entretanto? Como é que se deu essa mudança de sentimento?
O livro desenvolve-se ao longo de dois momentos: o presente e o verão de 1969, sendo aqui que se desenrola a maior parte da narrativa. No entanto, a narrativa passada no presente também é interessante porque também aborda sentimentos que raparigas, jovens raparigas de 18 anos, experienciam. A forma como por vezes a nossa auto-estima, a nossa insegurança, mascarada de segurança, nos leva a fazer coisas parvas.
No fundo, o livro é também sobre isso - sobre raparigas. Sobre o facto de, não importa em que momento da História se viva, as raparigas serem seres complexos, cheios de dúvidas, de quem é esperado que sejam uma série de coisas, muitas delas incompatíveis, quando elas só se querem descobrir e serem elas próprias.
Penso que posso aconselhar o livro, embora julgue talvez tivesse gostado mais quando tinha 16/17 anos. Porque na altura seria menos exigente e porque talvez me identificasse mais.
Não, este não é uma opinião / posta de pescada sobre o filme. Esta é uma opinião / posta de pescada sobre o livro.
Comprei o livro num acto de impulso: não sabia muito bem qual era a história, não sabia muito a avaliação da crítica, não sabia nada muito bem. Vi a capa, já tinha ouvido falar bem do filme e li, meio por alto, o resumo na diagonal e "ok, vou comprar".
Embora talvez seja um bocadinho desnecessário, porque nesta altura já todos devem saber qual é a história, deixo aqui a sinopse.
Quando o comecei a ler, fiquei surpreendida, porque não estava à espera daquele tipo de livro. Sabia que aquela era uma história real, mas achei que fosse em estilo romance. Mas não: o livro é um relato histórico que documenta a vida das personagens de forma "apenas" factual. Assim, é relatada a vida e a história das personagens, a forma como se desenvolveram e os feitos que alcançaram, mas sem grandes floreios.
Confesso que este não é um estilo que me atrai muito. Quando comecei a ler e percebi que era assim, pensei em deixá-lo "pendurado" porque, de facto, não é aquilo que eu mais gosto. É curioso, até, porque gostando imenso de História, seria de esperar que adorasse est tipo de livros. Mas não.
No entanto, decidi continuar. O livro não é muito grande e apesar de não ser, de facto, o estilo que mais me agrade, a história estava a interessar-me.
E, oh boy, ainda bem que o fiz. É, de facto, impressionante que a história destas mulheres não seja mais conhecida, que se tenha perdido na História. Mas é, sobretudo, impressionante o papel que estas mulheres, negras (e, consequentemente, vítimas de duplo preconceito) tiveram no desenvolvimento aeroespacial dos EUA desde a II Guerra Mundial. É impressionante como este grupo de mulheres, que tinham muito contra elas, conseguiram vencer os preconceitos, os estereótipos (embora continuassem a sofrer com eles ao longo da sua carreira) e tornarem-se mais-valias incontornáveis.
Ler este livro faz-nos pensar. Faz-nos perceber exactamente o que foram as leis segregacionistas de Jim Crow nos EUA e no quão ridículas (eufemismo) foram. Faz-nos pensar, uma vez mais, no quão estúpiod e hipócrita é os EUA estarem a lutar na Europa e a condenar a segregação judaica e terem aplicado o mesmo princípio aos seus negros. Não estou a dizer que a segregação judaica não deveria ter sido condenada e combatida, atenção; mas acho que, ao mesmo tempo, os EUA deveriam ter compreendido o perigo da segregação e do preconceito e ter terminado a segregação existente por lá.
Este livro faz-nos reflectir sobre o que as mulheres tiveram que lutar e penar para conseguirem chegar onde estão (sendo que ainda não estão ao mesmo nível dos homens). E, numa atitude mais umbiguista, faz-nos pensar no quão atrasados nós, portugueses, estávamos, de facto, nos anos 40, 50, 60. Porque nos EUA, apesar de toda a loucura, as mulheres, mesmo segregadas, chegavam às universidades e poderiam almejar a certos cargos, o que nunca na vida aconteceria por cá - nem sequer as mulheres, digamos, de "classes superiores". Quão estúpido é isto?
Mas este livros faz-nos pensar, também, que sim, é possível: é possível ultrapassar obstáculos, preconceitos, estereótipos. No entanto, as mulheres têm que ter as oportunidades. As meninas, as raparigas, têm que ter as oportunidades que os meninos, rapazes e homens. E é essa luta que ainda não acabou.
Acabei de ler, ontem de manhã, o Daqui a nada, de Rodrigo Guedes de Carvalho.
Foi depois de o ler que soube que este é o primeiro romance do autor, escrito com 20 anos. E ao perceber isto fiquei "Wait.. What?" Como é que alguém com 20 anos consegue escrever daquela forma? Como é que alguém, com 20 anos, consegue imprimir tamanha profundidade às palavras, às freases, aos parágrafos?
É um livro que fala de relações falhadas, de promessas por cumprir, de sonhos e vidas desfeitas. De esperança e de desesperança. De vida. E de morte. De desaparecimento. De apagamento.
Gostei. Não foi um livro fácil de ler. Pela escrita, pela forma como está construído (e desconstruído), pela minha vida nas duas últimas semanas. Mas gostei. Pela profundidade e pela reflexão que me permitiu.