Sobre os psicólogos que vão falar à televisão
Um dos problemas da Psicologia prende-se com o facto de não ser uma Ciência que a opinião pública tenha em grande consideração. Para quem está de fora, a Psicologia é uma pseudo-ciência, algo que se aproxima da astrologia (sendo que, muitas vezes, a astrologia é tida em melhor consideração que a Psicologia), e que, na verdade, não é nada de especial, porque todos ouvimos os problemas dos nossos amigos.
Enquanto estudante de Psicologia, ouvi coisas espectaculares sobre esta ciência. E a pessoa vai levando, porque, enfim, não quer causar confusão, não quer arranjar problemas. Mas é ligeiramente triste que, sendo uma Ciência tão importante e podendo ter um contributo para a sociedade tão relevante, seja levada tão a brincar.
No entanto, ao longo do tempo fui-me apercebendo de outra coisa: muitas vezes, são os próprios psicólogos que desacreditam a sua ciência e desvalorizam o seu próprio trabalho. Exemplo disso são os comentários que estes profissionais tecem sobre determinadas situações.
Exemplo: no jornal da SIC, um psicólogo comentou a situação do "jogador" de futebol que deu o pontapé ao árbitro (situação já de si triste e que merecia uma posta de pescada). Numa primeira fase, muito bem, referiu que provavelmente a alegada falta de memória não é possível numa situação destas - é um comentário que, na minha opinião, faz sentido, porque está a dar a sua opinião, com base na sua experiência e conhecimento, sobre algo. Mas logo a seguir, estraga o seu trabalho quando, depois de o jornalista perguntar se consegue traçar um perfil do "jogador", ele começa então a dizer uma série de coisas sobre a dita pessoa.
A minha questão é: com base em quê é que o psicólogo se baseia para traçar este perfil? Com base em que avaliações é que o psicólogo se baseia para dizer o que disse? Por acaso esteve com o homem em consultório? Por acaso falou com ele? Terá o homem respondido a questionários de personalidade? Não me parece.
A Psicologia é uma ciência. Não é algo que deva ser utilizado para "traçar perfis psicológicos" a pessoas específicas sem se ter contacto com elas. Digo eu, que não percebo nada disto.