Sobre as polémicas da vida
Hoje em dia, as pessoas ficam muito indignadas por quase tudo o que acontece. Seja grave ou não, o que interessa é colocar os dedos a funcionar no teclado do computador e dizer "Isto é feito", "Isto é ofensivo".
Lembro-me, quando saiu um dos anúncios de Natal mais fofinhos de 2015, da Vodafone, a polémica que foi porque, "oh coitadinhos dos filhos de pais divorciados, cujo único desejo é juntar os pais e não conseguem e vão ficar super melindrados com este anúncio".
Na altura, fiz um Estudo de Mercado exaustivo, com uma amostra de filhos de pais divorciados extremamente representativa da população, e a percentagem de participantes que se sentiu triste ou melindrado com este anúncio foi de, exactamente, 0,0%. Já a percentagem de participantes que considera tal opinião estúpida foi de 100%.
Agora, a polémica é outra e é lá fora. Pelo menos a estupidez é global! Pois parece que o McDonald's lançou uma campanha no UK em que, basicamente, um rapazito órfão de pai pergunta à mãe uma série de coisas sobre o pai na tentativa de encontrar algo com que se identifique - chegando sempre à conclusão que é bastante diferente. Até que vai ao McDonald's com a mãe e percebe que come o mesmo Menu que o pai e da mesma forma (suja-se no queixo com o molho). E isto gerou muita celeuma. Porque "oh meu Deus, as crianças que não têm pais vão ficar super tristes". Como consequência, o anúncio já foi retirado. É verdade. Deixámos de confiar no discernimento dos Ingleses depois do Brexit e, pelos vistos, com razão.
Bom, felizmente, eu não conheço assim tanta gente que já tenha perdido os pais, pelo que não posso fazer um Estudo de Mercado exaustivo. Mas sei que quando uma criança perde um pai ou uma mãe - ou, chamando as coisas pelo nome, quando um pai ou uma mãe morre -, a criança deve falar sobre isso. Deve tentar perceber quem era o pai ou a mãe, quais os pontos em comum e quais as diferenças. Porque é isso que vai permitir que a criança se lembre do pai ou da mãe com carinho ou, nalguns casos, é isso que vai permitir à criança conhecer o pai ou a mãe. É isso que vai evitar que se crie um fantasma.
Porquê não falar? Não, não julgo que o anúncio se esteja a aproveitar dos sentimentos para fazer dinheiro. Quer dizer, até o pode estar a fazer (em última análise, o objectivo de uma capanha publicitária será sempre fazer dinheiro), mas não acho que seja com má intenção.
Mas acho, mais do que tudo, que tem esse papel importante de dizer "falem. Queiram conhcer os vossos pais que já morreram. Isso é bom. Isso faz-vos bem."
Vamos lá, pessoas, o Mundo já tem chatices suficientes. Não nos chateamos com coisas que não valem a pena.