Quão facilmente nos tornamos "maus"?
Vejo esta notícia e não fico surpreendida.
Como já referi aqui, sou formada em Psicologia. O que ainda não tinha referido é que esta área - Psicologia Social - é a minha área de "especialização" (que é como quem diz, não percebo nada do assunto mas acho-a bastante interessante, tendo feito Mestrado nela).
Na verdade, foi esta questão do "porque é que fazemos o que fazemos" que me fez, aos 18 anos e cheia de dúvidas, escolher Psicologia. Nunca quis "ajudar pessoas" (i.e., fazer Clínica); quis, sempre, perceber o porquê de sermos como somos e de fazermos o que fazemos. No decorrer da Licenciatura, deparei-me com esta área - Psicologia Social - e com o estudo de estereótipos, formação de impressões, falsas memórias e, sim, o "sermos maus".
Depois de a II Guerra Mundial ter terminado e de se terem conhecido as atrocidades cometidas, a questão foi: "como?". Como é que o nosso vizinho do lado, aquele senhor simpático que cumprimentávamos todos os dias, foi capaz de fazer o que fez. Como é que o cidadão comum é, afinal, o demónio em pessoa.
E este estudo de Milgram (1961) veio dizer uma coisa que ninguém gostou de ouvir - a maioria de nós obedece à autoridade, mesmo que tal implique magoar seriamente outra pessoa ou, até, matá-la. E isso ajuda a explicar o porquê de o vizinho do lado ter ajudado a matar Judeus. É a verdade.
Entretanto, nos nossos dias, o estudo foi replicado (não exatamente, devido a questões éticas) e as pessoas mostram-se surpreendidas porque, afinal, os resultados mantém-se semelhantes. Há uma certa arrogância nas pessoas do séculos XXI - achamo-nos superior a tudo isto, achamos que "we know better", sabemos História, não vamos repetir as atrocidades da II Guerra Mundial, se alguém nos disser para matar alguém, para magoar alguém, nós somos superiores a isso.
No entanto... Não. Nós cedemos à autoridade. Se o contexto assim o justificar (ou nós achemos que justifica), nós podemos ser muito maus.
Não acreditam? Vejam o que aconteceu em Abu Ghraib há 17 anos. Acham que foram as condições extremas que levaram os militares americanos a cometer aqueles actos porque, na verdade, eles até são boas pessoas? Então pesquisem pelo Stanford Prison Experiment, de Zimbardo (uma das experiências mais interessantes que já vi). Vejam esta TED Talk.
Nós até podemos não ser intrinsecamente maus. Mas nenhum de nós pode garantir, com toda a certeza, que não se possa tornar mau caso o contexto assim o justifique (ou nós achemos que justifique). Não deveríamos ser arrogantes ao achar que se alguém nos disser "mata", nós não matamos.
Como dizia um professor meu da Faculdade, "A Psicologia explica".