Quando todos fecham os olhos
Nos últimos dias, tenho visto muitas reportagens sobre o caso de Larry Nassar, o médico da seleção norte-americana de ginástica. E, sinceramente, não sei porque continuo a ler. Porque cada página que leio causa-me nojo e náuseas.
Como é que é possível que isto tenha acontecido durante tantos anos? Como é que é possível que tantas pessoas tenham fechado os olhos a isto? Foram dezenas de "miúdas" que passaram pelas mãos dele. Que sofreram os seus abusos. E nunca ninguém fez nada. Nunca ninguém ligou às queixas.
Faz-me confusão.
Tem-se dito que não é só a cultura do assédio que tem que mudar. É também a educação das raparigas. Que as raparigas são educadas para serem submissas. Bom, a verdade é que os meus pais, apesar de muitas vezes me terem tentado incutir aqueles comportamentos "tipicamente femininos", nunca me educaram para ser submissa. Sempre me educaram para fazer valer a minha opinião. Para não deixar que nunca ninguém me levantasse a mão ou me tocasse de forma indesejada. E hoje eu digo que se algum dia algum homem me bater, eu posso morrer a seguir, mas bato-lhe por cima. Sim, eu sei, posso estar a cuspir para o ar. E não, não estou a dizer que a culpa é das mulheres que não fazem nada quando são vítimas de agressões. Mas se o meu pai nunca me bateu, então não vai ser um namorado ou marido ou o que quer que seja que me vai bater.
No entanto, claramente aqui as vítimas não foram assim tão submissas. As vítimas queixaram-se. Mas ninguém lhes ligou. Nem quando as vítimas também eram importantes e valiosas.
Posto isto, restará sempre a questão: de que vale fazer queixa? Não será melhor então tentar fazer-se justiça pelas próprias mãos? E quão cruel é o Mundo, tão retorcido, que acusaria, muito provavelmente, uma dass vítimas caso ela tivesse levado uma faca para o consultório para esfaquear o agressor caso ele lhe metesse as mãos em cima?