Quando os traumas nos tornam mais fortes
Como escrevi por aqui algumas vezes, em Setembro de 2017 aconteceu-me a pior tragédia da minha vida - o meu irmão mais velho suicidou-se. E foi, sem sombra de dúvida, o momento mais difícil da minha vida; no entanto, com mais alguns "arranhões", e embora ainda não tenha conseguido superar totalmente o que aconteceu - e tenho dúvidas que alguma vez consiga superar - a verdade é que consegui seguir com a minha vida. Não acho, no entanto, que seja alguma heroína ou qualquer coisa semelhante; penso que apenas fiz o que tinha que fazer.
Há umas semanas, passado pouco mais de 1 ano, vivi uma situação que nunca pensei vir a viver e que envolveu, também, um suicídio. À minha volta, sobretudo as pessoas que sabiam o que havia acontecido com o meu irmão, houve uma enorme preocupação comigo - pensaram que a situação me fizesse reviver sentimentos antigos, dores antigas, fantasmas antigos. E embora, admito, num primeiro momento tenha sentido uma sensação de deja vu, com a polícia e o INEM, rapidamente isso passou e eu comecei a agir - e agir, nestas alturas, também é importante, sobretudo para cuidar dos que cá ficam.
Mas a preocupação de terceiros existiu. "Estás bem? Pára. Estás bem?".
Por mais fria que possa ter parecido, a verdade é que aquela situação não foi o pior que me aconteceu. E o pior que me aconteceu deu-me algumas ferramentas para lidar com situações deste género - ferramentas emocionais e "racionais". Mais: o pior que me aconteceu faz-me relativizar tudo à minha volta: sim, é muito triste que aquela pessoa se tenha suicidado; no entanto, PARA MIM, foi muito mais triste o suicídio do meu irmão.
Aprendi que, na verdade, a vida pode ser isto: os traumas são fodidos. E passava bem sem o facto de o meu irmão se ter enforcado. Mas os traumas, não tendo nós qualquer controlo sobre eles, e deixando marcas e calos, tornam-nos também mais fortes.