Pronto, já não posso ser médica no Hospital de Cascais
Na sexta-feira passada, li esta notícia e tive alguma vontade de rir - para não chorar.
Sim, tenho uma tatuagem, feita já este ano, no braço esquerdo. A maioria das pessoas não repara (porque está muitas vezes tapada pelo relógio e pela Pandora), mas pode ser considerada "visível". É algo muito simples e que significa algo muito importante para mim. Sim, poderia tê-la feito num sítio mais reservado (e pensei em fazer na costela, por exemplo), mas eu queria tê-la visível. Para me lembrar, nos momentos mais difíceis, de não perder o Norte.
Quando fiz a tatuagem, tive noção que, no futuro, poderia constituir um travão a novos projectos profissionais - porque ainda há muitos locais onde existe um código de conduta que impede as "tatuagens visíveis". Por isso, optei por fazê-la pequena, facilmente escondida por um blazer e por um relógio e pulseira. E de facto, muitas vezes as pessoas não reparam - aconteceu no meu trabalho, por exemplo, só passado tempos é que as pessoas repararam (e nem ando de blazer!). Por outro lado, e tendo já trabalhado num sítio que proíbia as tatuagens visíveis, também penso que não gostaria de voltar a trabalhar num local com uma cultura tão rígida.
Mas bem, voltando ao Hospital de Cascais e aos Códigos de Conduta. Na minha humilde opinião, mais do que o que as pessoas têm vestido, importa-me a qualidade do serviço que prestam. E se calhar, o Hospital de Cascais, em vez de estar preocupado com aquilo que os médicos vestem ou com as tatuagens que têm, deveria estar preocupado com o serviço que presta. Em Dezembro, vai fazer 3 anos que o filho de uma amiga minha quase morria durante o parte por negligência médica. E isto é grave. Mas mais grave ainda é o facto de ela não ser caso único. E de o parto ter sido um autêntico filme de terror que me faz mirrar os ovários e o útero de cada vez que a história é contada.
Portanto, a Gerência do Hospital, em vez de estar preocupada com a maquilhagem ou com as tatuagens, deveria estar preocupada em formar convenientemente as equipas. Digo eu.
No entanto, nada disto invalida que eu não ache que não deva existir bom senso e isso às vezes não há, é um facto. Muitas vezes, quando alguém começa a trabalhar na minha empresa, perguntam-me "existe algum código de indumentária?". Bem, não, não existe. O nosso ambiente é considerado informal. Ténis, calças de ganga, tops, tatuagens, é tudo aceite. Contudo, o que eu digo é que apesar disto, deverá existir bom senso. Calças rasgadas não, por favor. Calções curtos, não, por favor. O local de trabalho é isso mesmo, um local de trabalho, e na minha talvez retrógada opinião, as pessoas não deverão ir trabalhar da mesma forma que vão para o jardim ao fim-de-semana.
Ainda assim, acho que o bom senso tem que existir das duas partes e se calhar, também não faz sentido proibir tatuagens visíveis. Certo?