Meia-Maratona
Quando criei este blog, há pouco mais de um ano, o objetivo nunca foi partilhar acontecimentos mais pessoais da minha vida. Era, como dizia, partilhar a minha opinião, que vale o que vale, sobre assuntos genéricos.
Acontece que já partilhei um momento mais privado - o nascimento da Maria. E abri um precedente.
Se a partilha de acontecimentos da minha vida interessa a alguém? Não sei. Mas a verdade é que a minha opinião sobre temas mais genéricos também poderia não interessar e não é isso que me impede de escrever XD
A verdade é que eu gosto de escrever. E para mim está a ser importante escrever aqui e tenho tido vontade de escrever também sobre assuntos mais pessoais. Prometo que vou tentar não tornar isto um diário privado, mas julgo que não vou resistir a escrever sobre coisas mais "minhas".
Como a minha primeira Meia-Maratona. Ontem, dia 26 de Fevereiro de 2017, corri a minha primeira Meia-Maratona. E sinto-me a super-mulher.
É daquelas coisas que quem não corre não percebe - eu não percebia. Mas correr é das melhores coisas que podemos fazer. Mesmo a sério. Ao físico, claro, mas, sobretudo, à cabeça. Tem-me feito muito bem, tem-me ajudado a lidar com problemas, tem-me ajudado a disciplinar-me. A ter paciência. A lutar. A ultrapassar-me, a superar-me. Há 3 anos e meio, quando comecei a correr mais a sério, dizia que nunca na vida iria correr uma meia-maratona. Porque a distância é muito grande. Porque tenho um problema no joelho que, na verdade, até tornaria a corrida desaconselhada. Porque não tinha cabeça para isso - e para uma meia-maratona já é preciso ter cabeça.
Porque uma meia-maratona não é fácil. Bem, para mim, não foi fácil. São 21 km e eu nunca tinha corrido tantos km. O máximo que tinha corrida tinham sido 17, há duas semanas, e a verdade é que os 2 últimos km já me tinham custado bastante - mais uma vez, o importante foi mesmo a cabeça.
Então, quando ontem acordei, pensei "porra, 21 km é muito tempo" e pensei "no que é que me fui meter?!".
E lá fui. Encontrei a minha colega de trabalho e às tantas, a adrenalina começou a descer. Aquele nervoso miudinho, o friozinho na barriga antes de uma prova desportiva (e que há anos que não sentia e do qual eu morro de saudades) apareceram. Pensei "vamos lá, diverte-te. Esse é o grande objetivo. Bem, e terminar e não morrer também, claro".
E lá fui. Com energia nos primeiros 10 km. Via fotógrafos e dizia adeus. Subidas custavam, mas faziam-se bem. Isto é fixe, estou bem, Cascais é lindo, o Guincho é espetacular, e o cheiro a mar? Meu Deus, este cheiro a mar... Até que dei a volta.
E começou a custar aos 14 km. O corpo começa a doer. A vontade de ir à casa de banho começa a ser cada vez maior. Beber água, importantíssimo, tem esse efeito colateral. E o pior é que sim, há as duas vontades de ir à casa de banho. Não acontece sempre, nem a toda a gente, mas a verdade é que o impacto da corrida põe-me os intestinos a trabalhar a toda a força. E já não sabia o que fazer. Já tinha passado a casa de banho (e também não sei se seria capaz de a utilizar, porque detesto as casas de banho portáteis).
A partir dos 15 km, começa a passar TUDO pela cabeça. Todas as minhas vitórias, todas as minhas derrotas. Tudo aquilo que fiz e não fiz. Aquilo que quero fazer. Pensamos nas pessoas que estão à nossa espera na meta e nas pessoas que estão atrás de nós na corrida. Mas o que passa mais pela cabeça é o desistir. Porque o corpo começa a doer. O joelho começa a apitar. O fecho da abertura das calças, nas pernas, começa a bater no calcanhar e magoa mesmo a sério. As pernas começam a pesar e a doer. A anca começa a doer. Mas vai-se continuando. Temos uma vozinha na cabeça que nos diz "abranda mas não pares. Por ti, pelos outros, continua, vai". E fica a faltar menos 1 km, e menos outro, e a partir de agora é sempre a descer. E está quase. E os corredores vão puxando uns pelos outros. Ouvi muitas vezes "força" e disse, outras tantas "não desistas!".
E de repente, estamos a ver a Baía de Cascais. A meta está já ali à frente. A minha colega entretanto viu-me e fez um sprint para me apanhar. Tive vontade de a abraçar.
E vindo sabe-se lá de onde, vem a descarga final de adrenalina. E de repente, estamos a cortar a meta. E eu, que não sou nada de chorar, tive vontade de chorar de emoção quando cruzei a meta. Apesar de estar morta, KO, ainda tive energia para saltar e ir correr ter com o meu namorado que foi ter comigo à meta. Onde é que fui buscar esta energia? Não sei.
Mas foi brutal. De tal forma que já estou a pensar "quando é a próxima?". Ontem dizia que estava "high on adrenaline" e acho mesmo que é isso. Uma única experiência deixou-me viciada. Quero mais. Quero sentir mais esta adrenalina.
Doeu, custou. Mas é espectacular.
Porque eu posso não conseguir fazer muitas coisas, posso ter muitos objetivos que ainda não consegui cumprir e posso ter uma cabeça cheia de macaquinhos. Mas esta objetivo consegui cumprir e aqui a minha cabeça funcionou bem.
Há um ano, há precisamente um ano, lixei o joelho na minha viagem a Berlim. Como resultado, tive que passar por fisioterapia, recuperação e só voltei a correr em Julho. E ter conseguido, passado um ano de ter lixado o joelho, correr uma Meia-Maratona, foi só espetacular. Porque as coisas más acontecem, mas podem sempre melhorar :)