Gosto de falar sobre o meu irmão
O meu irmão morreu - o meu irmão suicidou-se - em 2017.
E, naturalmente, a sua morte foi o pior momento, e o mais marcante, da minha vida. De repente, vemos a vida a ficar do avesso, sem sabermos para onde ir. De repente, tudo aquilo que pensamos que pode ser o futuro, planos e projecções, desaparecem. E nós desaparecemos um bocadinho também.
No entanto, tenho-me vindo a aperceber que apesar de tudo, apesar da dor, do sofrimento, da revolta e da incompreensão, apesar de às vezes ainda pensar "isto aconteceu mesmo? Eu nunca mais o vou ver? Nunca mais vamos falar? A sério??", eu gosto muito de falar do meu irmão. Gosto de falar dele com pessoas que o conheceram e que não o conheceram, gosto de falar dele com pessoas que sabem o que aconteceu e que não sabem. Gosto de falar dele, das coisas dele, de experiências que partilhámos, dos feitos dele. Como se, na verdade, ele estivesse entre nós.
Tenho muitas saudades do meu irmão. Tenho saudades da minha vida com o meu irmão. Desde que o meu irmão morreu, viajei, saí de casa, fiz meias-maratonas, estabeleci-me, pela primeira vez, num emprego. E trocava isto tudo, tudo, sem pestanejar, pelo meu irmão.
No entanto, infelizmente, a vida não funciona assim. Não é uma troca. Contudo, penso que, talvez, falar dele ajude a manter a sua memória. Gosto de falar sobre os feitos dele porque o Mundo merece saber que ele era uma pessoa incrível. Gosto de falar sobre as nossas experiências porque é impossível não falar, uma vez que fazem parte de mim e do que sou.