Foi para isto que lutaram?
Nos últimos dias, muito se tem falado da condição das mulheres portuguesas. Que, apesar de terem empregos, continuam a ser pior remuneradas que os homens ou que, em casa, continuam a ter à sua responsabilidade mais tarefas que os homens (ainda que, lá está, também trabalhem fora de casa). Como resultado, aparentemente, têm apenas 54 minutos para cuidarem de si.
E isto aborrece-me. Vivo sozinha e não tenho filhos, por isso, esta não será a minha luta enquando "ser individual". Sim, também ando sempre a correr - sobretudo porque trabalho longe de casa -, sim, também tenho a sensação que não tenho tempo para nada; no entanto, de resto, "trabalho para mim". Em casa, sim, sou só eu a lavar, limpar e a cozinhar mas porque, lá está, vivo sozinha.
No entanto, enquanto ser que vive em sociedade, não consigo deixar de ficar triste com esta situação. Porque continuamos a viver numa sociedade machista em que se as tarefas domésticas são partilhadas, a mulher é uma sortuda porque o marido ajuda. Porque continuamos a viver nesta sociedade em que, muitas vezes, são as próprias mulheres que acham que têm que fazer porque os homens, coitadinhos, não sabem fazer. Não sabem cuidar dos filhos, não sabem cozinhar como deve ser ou limpar com o mesmo brio. E os homens continuam a achar-se no direito de não fazer nada. Porque é assim que tem que ser.
Quando leio estes artigos, quando oiço estas opiniões, penso sempre nas sufragistas dos anos 20 do século passado. O que é que elas pensariam se assistissem ao que se passa atualmente. Porque, efetivamente, conseguiram aquilo que pretendiam - as mulheres não só ganharam o direito ao voto como começaram a trabalhar fora de casa. No entanto, o facto de terem começado a trabalhar fora de casa não faz com que exista igualdade. E, na verdade, a sensação que me dá é que hoje a mulher que trabalha fora de casa e faz tudo em casa, embora emancipada, tem uma qualidade de vida pior que as mulheres de outras gerações.
Não que eu ache, atenção, que as mulheres devem voltar para casa (embora pense que se quiserem, também não há mal nenhum nisso). Mas não consigo deixar de ficar triste por pensar o que é que essa emancipação significou. É uma emancipação fajuta, agridoce. E é triste.