Ficar presa no Aeroporto de Amesterdão - Parte 4
Naquela segunda noite, não dormi quase nada. Fiquei mal disposta e só pensava que nos últimos 3 meses a minha vida tinha sido só parva (um eufemismo). Dormi cerca de 1h30.
Mas lá acordámos e fomos para a zona do controlo das malas. O nosso objectivo era passar aquilo rapidamente e irmos comer mais uma porcaria qualquer caríssima.
Mas a zona do controlo das malas é sempre uma coisa estranha e demorada. E aleatória. Quando fui, em Outubro, a Viena, tive que ser super revistada porque acusava explosivos. Juro... Mas aí deu-me para rir e ainda disse ao segurança "se não fosse segurança, eu dizia-lhe o porquê..." [Estava a pensar em dizer "Eu sou uma bomba"].
Ali pusemos todos os pertences nos caixotes, como é normal, e eu tive que usar 3. E os 3 foram para a segunda verificação. Passei-me. Não me fazia sentido que as botas tivessem que ir para esta segnda verificação quando, no dia anterior (e na viagem para ir para Amesterdão) nem sequer as tive que descalçar. Ainda para mais, eu já estava constipada. E ficar descalça não é fixe.
Depois, o segundo caixote, com uma mochila e um blusão. A segurança abriu a mochila, tirou o Kindle e disse-me "para a próxima isto tem que vir cá fora". Foda-se, está a gozar comigo?! Respondi-lhe "não foi porque o seu colega me disse que não era preciso" [e a verdade é que sempre que viajo com o Kindle - e já fui com ele para Oslo, Viena, Costa Rica e Amesterdão -, depois de me perguntarem se levo computador ou tablet e de eu dizer que só levo o Kindle e a máquina fotográfica, dizem-me que não é preciso tirar eses equipamentos. Naquele dia não perguntei porque me queria despachar], ao que ela me responde "se eu estou a dizer que é para tirar, é porque é para tirar". Cabra. Depois, ainda me tirou a bolsa da máquina, abriu-a, tirou a máquina, tirou a tampa da objectiva... Eu só pensava, e perdoem-me a linguagem "mas que filha da puta". Entretanto, da minha mala, o colega tirou-me o pijama, espreitou... E eu descalça, enquanto viam as botas. O mais irónico disto tudo é que também mandaram a mala da minha amiga para o segundo controlo porque ela tinha lá um objecto que se parecia com uma faca - e era, de facto, uma faca, mas tipo aquelas facas de bolo, que vinha com um queijo que tinha comprado. E eu também tinha esse souvenir - mas ninguém o viu. Ridículo. Devo ter ar de terrorista e resolveram implicar comigo. Problema disto - eu reclamei. Juro que pensei que ainda ia ser presa.
Mas lá passámos. Comemos mais uma bodega qualquer e lá fomos para o avião. Ainda esperámos uma hora e tal - não sei precisar, porque entretanto adormeci -, mas lá levantámos voo. E nem quis acreditar quando, finalmente, cheguei ao aeroporto de Lisboa.
E foi isto...
Eu sei - há coisas piores. Não tomei banho e só comi porcaria durante 2 dias, mas há situações bem mais graves. Há pessoas que vivem permanentemente em piores condições. E admito que, muitas vezes, perdi a cabeça. Com o operador da Transavia, com os funcionários do aeroporto, com o operador da TAP. Mas faz-me muita confusão, a sério que faz, como é que certas coisas acontecem na Holanda. Como é que o aeroporto de uma cidade habituada a nevões se deixa ficar no caos que vi, em que ninguém sabia dizer nada nem fazer nada de jeito. Como é que a TAP não nos dá informações em tempo útil.
O meu ano não foi fácil - ou melhor, os últimos 3 meses foram caóticos. Nem as férias foram isentas de problemas - desde o guaxinim que me mordeu em Manuel António, na Costa Rica, até a ficar presa no aeroporto de Amsterdão 2 noites (quando dormi 3 na cidade), parece que tudo tem corrido ao contrário do que deveria ter sido.
Mas, bem... Há coisas piores que ficar presa no aeroporto. Há campos de refugiados. Há guerras. Há coisas piores.