Fazes falta.
Há um ano percebi que o Luto, para além de um processo, é um verbo. Porque lutamos, todos os dias, para continuar.
Há um ano, a vida que conheci durante 28 anos acabou. Desengane-se quem pensa que a morte só leva a vida de quem morre - na verdade, a morte leva a vida como foi conhecida de quem cá fica. Como não? De repente, tudo aquilo que conhecemos é transformado; de repente, pontos de referências, certezas para a vida e projectos futuros são eliminados para sempre.
Há um ano, a minha vida, como a conheci durante 28 anos, terminou. Há um ano, iniciei uma nova vida, num mundo que mais parecia, muitas vezes, uma realidade alternativa, um universo paralelo. E sendo um universo paralelo, dei por mim a fazer coisas incompatíveis comigo, com aquilo que sou. Dei por mim a falar com um Deus em que não acredito e a negociar com Ele para que tudo isto fosse um sonho mau. Dei por mim a acreditar que a morte não é o fim da Linha e que estás em algum lugar a olhar por nós e a assistir às coisas boas. Dei por mim a imaginar o que estarias a pensar e a fazer se, efetivamente, a morte não fosse o fim da Linha. Dei por mim a falar com uma pessoa que já cá não está, a zangar-me contigo e a fazer as pazes contigo, num loop vertiginoso. Dei por mim a imaginar que estavas comigo em determinados momentos e a pensar no que me dirias. A pensar que me incentivarias, me darias os parabéns ou gozarias comigo. A pensar que me pedirias desculpa. No entanto, por mais que tenha acordado dias e dias seguidos a pensar “isto não aconteceu”, a realidade tratava-se de me mostrar que sim, que tinha acontecido. Que tu nunca mais ias estar por aqui a gozar comigo ou a incentivar-me a fazer mais e melhor e a acreditar mais em mim do que eu.
A realidade foi - é - lixada. Porque aconteceu. Porque morreste, suicidaste-te e nós ficámos por aqui, a apanhar os cacos. A vida tem seguido, tem rolado, com coisas boas a acontecer. Mas a tua falta é sentida em todos os momentos.
Prometes que olhas por nós?