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Opiniões e Postas de Pescada

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23
Jun20

Falar sobre o Pedro Lima

Miúda Opinativa

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o Renato, um colega meu do Secundário, que se suicidou aos 27 anos, em Fevereiro de 2017. Nunca fomos amigos, verdadeiramente amigos, mas éramos colegas que se davam bem. Há muito tempo que não falava com ele, mas ia vendo como a vida lhe ia correndo nas redes sociais. O Renato mostrava-se bem. Com amigos, com namorado, com a vida estabilizada. Já não falava com ele há algum tempo, mas diria que tudo estava bem. 

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o Vivaldo, um colaborador da minha antiga empresa que se suicidou em Janeiro de 2019. É certo que era introvertido e tínhamos uma relação meramente profissional. Mas 1 mês antes, na Festa de Natal, divertiu-se tanto como todos os outros - aparentemente.  

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o meu irmão, que se suicidou aos 31 anos, em Setembro de 2017. Nós sabíamos aquilo por que ele estava a passar - depressão diagnosticada e medicada - e sim, havia sinais identificados pela família. Mas... O meu irmão ria-se. O meu irmão ia trabalhar todos os dias e era extremamente competente. O meu irmão era o pilar de muita gente. O meu irmão era uma rocha - só não sabíamos que a base da rocha estava frágil. 

Ler sobre o Pedro Lima, sobre o porquê, o não porquê, é ler sobre o meu irmão. Sobre uma pessoa que não demonstra sinais de tristeza evidente, que tem tudo para ser feliz, e mesmo assim é capaz de cometer suicídio. 

E admito - isto custa. Custa porque não preciso de me recordar dessa incompreensão. E custa porque a incompreensão não faz sentido. A depressão existe, o vazio existe, sem que, infelizmente, seja necessária uma "razão". E isso, acreditem, torna tudo ainda pior. Não seria tão mais fácil, para quem passa por esses momentos, conseguir resolver a questão com "eu tenho tudo para ser feliz, vou ser feliz" e voilá, adeus vazio, escuridão, buraco negro?

Era mais fácil. Mas não é assim tão fácil. A depressão é uma cabra, que nos come por dentro, tira-nos a energia, a vontade, a motivação, a capacidade. E o pior - fa-lo dentro de nós, sem evidenciar sinais no exterior. Assim, aos olhos dos outros, seremos apenas "preguiçosos", anti-sociais, lentos. 

Porque ainda existe estigma, pena, o que seja, por quem passa por estes movimentos. 

Em Março de 2018, depois do maior ataque de pânico no metro de Lisboa, em que, à hora de ponta, e sozinha, deixei de conseguir respirar e só chorava, tendo que sair e ir a pé até ao comboio (sei lá como), decidi começar a fazer terapia. Só em Janeiro do ano seguinte é que falei sobre isso com o meu chefe, para lhe pedir para, nesses dias, começar a sair a mais cedo. Eu tinha uma relação muito próxima com ele e ele foi, inclusiamente, a primeira pessoa com quem falei depois de a minha mãe me ter ligado quando o meu irmão morreu. E mesmo assim, não senti coragem para lhe falar sobre isto mais cedo. Porque, lá está, não queria passar por essa "pena". 

Mas isto é algo que tem que ser mudado. Bem, o Mundo tem que ser mudado. E a Saúde Mental tem que começar a ser cuidada. 

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