Elementos Secretos
Não, este não é uma opinião / posta de pescada sobre o filme. Esta é uma opinião / posta de pescada sobre o livro.
Comprei o livro num acto de impulso: não sabia muito bem qual era a história, não sabia muito a avaliação da crítica, não sabia nada muito bem. Vi a capa, já tinha ouvido falar bem do filme e li, meio por alto, o resumo na diagonal e "ok, vou comprar".
Embora talvez seja um bocadinho desnecessário, porque nesta altura já todos devem saber qual é a história, deixo aqui a sinopse.
Quando o comecei a ler, fiquei surpreendida, porque não estava à espera daquele tipo de livro. Sabia que aquela era uma história real, mas achei que fosse em estilo romance. Mas não: o livro é um relato histórico que documenta a vida das personagens de forma "apenas" factual. Assim, é relatada a vida e a história das personagens, a forma como se desenvolveram e os feitos que alcançaram, mas sem grandes floreios.
Confesso que este não é um estilo que me atrai muito. Quando comecei a ler e percebi que era assim, pensei em deixá-lo "pendurado" porque, de facto, não é aquilo que eu mais gosto. É curioso, até, porque gostando imenso de História, seria de esperar que adorasse est tipo de livros. Mas não.
No entanto, decidi continuar. O livro não é muito grande e apesar de não ser, de facto, o estilo que mais me agrade, a história estava a interessar-me.
E, oh boy, ainda bem que o fiz. É, de facto, impressionante que a história destas mulheres não seja mais conhecida, que se tenha perdido na História. Mas é, sobretudo, impressionante o papel que estas mulheres, negras (e, consequentemente, vítimas de duplo preconceito) tiveram no desenvolvimento aeroespacial dos EUA desde a II Guerra Mundial. É impressionante como este grupo de mulheres, que tinham muito contra elas, conseguiram vencer os preconceitos, os estereótipos (embora continuassem a sofrer com eles ao longo da sua carreira) e tornarem-se mais-valias incontornáveis.
Ler este livro faz-nos pensar. Faz-nos perceber exactamente o que foram as leis segregacionistas de Jim Crow nos EUA e no quão ridículas (eufemismo) foram. Faz-nos pensar, uma vez mais, no quão estúpiod e hipócrita é os EUA estarem a lutar na Europa e a condenar a segregação judaica e terem aplicado o mesmo princípio aos seus negros. Não estou a dizer que a segregação judaica não deveria ter sido condenada e combatida, atenção; mas acho que, ao mesmo tempo, os EUA deveriam ter compreendido o perigo da segregação e do preconceito e ter terminado a segregação existente por lá.
Este livro faz-nos reflectir sobre o que as mulheres tiveram que lutar e penar para conseguirem chegar onde estão (sendo que ainda não estão ao mesmo nível dos homens). E, numa atitude mais umbiguista, faz-nos pensar no quão atrasados nós, portugueses, estávamos, de facto, nos anos 40, 50, 60. Porque nos EUA, apesar de toda a loucura, as mulheres, mesmo segregadas, chegavam às universidades e poderiam almejar a certos cargos, o que nunca na vida aconteceria por cá - nem sequer as mulheres, digamos, de "classes superiores". Quão estúpido é isto?
Mas este livros faz-nos pensar, também, que sim, é possível: é possível ultrapassar obstáculos, preconceitos, estereótipos. No entanto, as mulheres têm que ter as oportunidades. As meninas, as raparigas, têm que ter as oportunidades que os meninos, rapazes e homens. E é essa luta que ainda não acabou.