Conhecemos mesmo as pessoas?
Digo, frequentemente, que não ponho a mão no fogo por ninguém. Nem pelos meus pais, nem pelos meus irmãos, nem pelo meu namorado. Nem por mim. Há uns tempos, no trabalho, alguém dizia que tinha a certeza que jamais seria capaz de matar alguém. Ao que eu respondi que não podia dizer o mesmo sobre mim. Quanto mais não seja porque não sei se em defesa, não o poderia fazer. Eu sei, sou uma pessoa fria. Mas talvez realista. Porque existem situações, momentos, que nos transformam. E, por vezes, a vida simplesmente muda-nos.
Se há 2 anos me dissessem que o meu irmão se ia suicidar, eu diria, muito possivelmente, para essa pessoa ter juízo. E, no entanto, há 1 ano e 15 dias, o meu irmão enforcou-se na sua casa, na barra de fazer elevações e com uma corda.
Contudo, apesar disto, situações como esta surpreendem-me sempre. A provar-se que, de facto, foi a mulher que matou Luís Grilo, é mais uma situação típica em que, afinal, o inimigo estava na própria casa. E nestas situações eu pergunto-me sempre: será que havia alguma desconfiança de que algo estava a acontecer? Será que haveria indícios?
Como é que é possível viver tantos anos com uma pessoa e ser capaz de fazer uma coisa destas? E como é que é possível viver tantos anos com uma pessoa e não desconfiarmos que essa pessoa é, na verdade, uma assassina?