A dependência das Redes Sociais
Quando eu estava no primeiro ano da Faculdade, uma professora minha disse-nos que vinha a reparar que, de ano para ano, os primeiros anos estavam piores. Mais imaturos, mais mal-comportados, etc. etc. E eu, no alto dos meus 18/19 anos (porque nessa altura somos todos muito sábios, claro está), disse-lhe "pois, professora, mas prepare-se. Daqui para a frente serão piores".
Enfim, isto deve ser a mais velha história do Mundo. Todos nós achamos que as gerações seguintes são piores e que a nossa geração é a última boa geração. Não é nada de novo.
Adiante. Passaram-se 10 anos.
A minha geração já entrou no mercado de trabalho há uns anos e começamos a assistir à entrada de uma nova geração, de 21/22 anos, neste mundo. Uma geração que, mais ainda do que a minha, é muito conectada às redes sociais. Para quem a entrada no mercado de trabalho e o seu dia-a-dia laboral é super-documentado no Facebook, Instagram e Snapchat (e talvez mais, não sei). E isso até começa a ser utilizaddo pelas Organizações como forma de employer branding: neste momento, os colaboradores das Organizações já são embaixadores dos seus locais de trabalho e uma das ferramentas utilizadas é, precisamente, as redes sociais. Até aqui tudo bem.
Mas existe um limite. E esse limite não é assim tão difícil de definir. Esse limite é quando a partilha da vida laboral nas redes sociais põe em causa o trabalho que se faz, tornando-se eticamente reprovável.
Há uns dias, uma antiga colega de escola da minha irmã que trabalha em R&S, colocou no Instagram (mais concretamente no Instastories) uma foto do lanche composto por bolachas de chocolate com uma legenda a falar sobre alimentação saudável. O que é que isto tem de mal? Nada. Não fosse o caso de por baixo do pacote das bolachas estar um CV. E eu, que também trabalho nessa área e já tenho olhos de lince para esses pormenores, detectei logo o e-mail da pessoa e o contacto telefónico. Para além, claro, de parte da experiência profissional.
E isto é grave, muito grave. Um post aparentemente inocente (até porque só tem a duração de 24 horas) pode ter consequências muito graves. Porque os processos de recrutamento e selecção são sigilosos; logo, não é suposto que as informações de um/a candidato/a estejam assim, em rede. É pouco provável que alguém, a partir dali, perceba quem ele/a é; no entanto, nunca se sabe, e isso pode trazer consequências para o/a candidato/a. Consequentemente, quebrando o sigilo obrigatório, isto pode trazer também consequências para a antiga colega da minha irmã e, no limite, para a empresa onde ela trabalha.
E isto é algo que não percebo. A partilha do nosso trabalho nas redes sociais é assim tão importante que ponha em causa nosso trabalho? Para mim a resposta é simples: não. Simplesmente, não.
E não percebo esta necessidade de tudo partilhar. Sim, tal como disse ontem, eu também partilho coisas e é giro ver passado uns tempos as memórias. Mas, julgo eu, são coisas que não ultrapassam limites. Claro que às vezes é difícil estabelecer limites: para mim, pode fazer todo o sentido partilhar uma foto parva minha em Oslo e isso para outros pode ser demasiado - no entanto, julgo que a partilha que põe em causa outros e o nosso trabalho é perfeitamente evitável.
Mas isso sou eu, que estou perto dos 30...