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Opiniões e Postas de Pescada

Opiniões e Postas de Pescada

06
Jul20

Cair. Para depois levantar.

Miúda Opinativa

Existem alturas complexas. Em que a vida vai correndo, com as mesmas alegrias de sempre e com as mesmas chatices de sempre. Ainda assim, nós não estamos normais e vamo-nos abaixo, sem sabermos muito bem porquê, nem como. Porque se as chatices são as mesmas de sempre, porque raio nos vamos abaixo? 

Mas vamos. Vamos e acordamos durante a noite em sobressalto. Vamos e andamos desanimados. Vamos e sentimos que estamos em piloto automático. E tudo o que vem lá de trás, todos os nossos medos e inseguranças, voltam a acenar, como que a dizer "olá, velha amiga! Esperavas que já não estivesse por aqui? Pensa outra vez". 

O grande problema disto é que acaba por ter uma enorme influência nos vários quadrantes da nossa vida. Na nossa vida profissional e nas nossas relações. E depois... a bolha explode e a merda espalha-se toda. 

Nestas alturas, cai tudo. Até que alguém, e de forma, é verdade, meio abrutalhada, nos diz o que precisamos de ouvir. E nos dá a mão quando não aguentamos mais e apenas choramos, choramos e choramos. 

Foi de forma meio abrutalhada, mas serviu. Já me estou a levantar. Ainda estou a apanhar cacos - acho que vou continuar a apanhar cacos durante o resto da minha vida - mas já me estou a levantar. 

Espero. 

03
Jul20

Amizade na Vida Adulta

Miúda Opinativa

Em Agosto de 2018, escrevi isto. E fico triste por perceber que dois anos depois, este continua a ser um tema bem atual na minha vida. E fico ainda mais triste por perceber que se calhar, nem se pode culpar a maternidade. Às vezes, é só mesmo das pessoas. 

Gostava de sentir que a questão se mantém: são as mulheres que são mães que se afastam das amigas sem filhos ou são as mulheres sem filhos que se afastam das amigas que são mães? 

No entanto, infelizmente, cada vez acho mais que, no meu caso, é a primeira opção: são as mulheres que são mães que se afastam das amigas sem filhos - consciente ou inconscientemente. E isto aborrece-me. Aborrece-me porque ninguém depois será capaz de admitir que o faz e, já se sabe, a culpa é das "irresponsáveis que não sabem o que é ter responsabilidades". 

É triste, mas é verdade - desde que o desconfinamento iniciou, ainda não estive com determinado grupo de amigas. Na verdade, a última vez que estive com esse grupo foi em Janeiro. Entretanto, viemos todos para casa e desde que começámos a sair, houve tentativas de nos juntarmos mas as tentativas partiram SEMPRE de quem não tem filhos - mas atenção, com programas adaptados a crianças. E quem tem filhos ou não respondeu ou nem fazia um esforço para estar. Contudo, tratando-se de programas que incluíssem apenas quem tem filhos... já dava. E isto é triste. Aborrece-me. 

No entanto, se calhar devia aprender com isso e começar a combinar eventos paralelos. É isto. 

02
Jul20

Então e como foi adoptar um cão?

Miúda Opinativa

Estávamos em pleno confinamento quando a minha irmã mais nova me enviou uma página de Instagram de cães. Comecei a ver a coisa e fui-me entusiasmando, ao ponto de ter começado a ver outras páginas. Mas tentei sempre manter uma certa distância emocional: eu gosto de cães, mas sempre tive algum "receio" de ter um cão num apartamento que passaria muito tempo sozinho. 

Até que na página da UPPA descobri um cãozinho mesmo mesmo fofo. Era lindo, com uns olhos doces doces. E num impulso, mandei-lhes um email. Fui visitá-lo em Maio e quebrei. No entanto, as dúvidas continuavam - fazia sentido um cão de porte médio vir para um apartamento e passar tantas horas sozinho? Ele estava com um problema intestinal e foi a razão perfeita para eu ter mais tempo para decidir. 

E foi em casa que percebi - na Uppa os cães são bem tratados mas não deixam de estar num abrigo com tantos outros cães. E embora ele vá passar algum tempo sozinho quando a vida regressar ao normal (ah ah), a verdade é que vai ter pelo menos uma humana a cuidar só dele. E decidi adoptá-lo. 

No dia 10 de Junho, o Loki veio para minha casa. Tive muita sorte: não faz xixi nem cocó em casa, não ladra e não morde. É um cão muito muito meigo que só quer miminhos (mais até do que brincadeira). 

Embora não se tenha a certeza, terá entre os 6 a 8 anos - é já adulto. 

E nestas semanas, ainda não me arrependi. Pensei "eu tinha uma vida tranquila e agora é menos tranquila", mas não me arrependi. Porque a falta de tranquilidade (e o facto de nunca mais ir ter a casa limpa) é compensada pelo mimo. É compensada pela alegria com que ele me recebe das poucas vezes que o deixei sozinho (e tenho que o começar a deixar mais vezes...). É compensada pelo carinho com que ele me olhou e me deu a patinha e me deu beijinhos num dia em que tive uma crise de choro. É compensada por ver que o seu olhar já se transformou. Ele tinha um olhar doce mas triste; agora, tem um olhar doce e embora às vezes desconfiado, já é mais alegre :) 

É um doce. É um mimado e fica chateado quando não lhe dou atenção. É o meu cão :) 

23
Jun20

Falar sobre o Pedro Lima

Miúda Opinativa

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o Renato, um colega meu do Secundário, que se suicidou aos 27 anos, em Fevereiro de 2017. Nunca fomos amigos, verdadeiramente amigos, mas éramos colegas que se davam bem. Há muito tempo que não falava com ele, mas ia vendo como a vida lhe ia correndo nas redes sociais. O Renato mostrava-se bem. Com amigos, com namorado, com a vida estabilizada. Já não falava com ele há algum tempo, mas diria que tudo estava bem. 

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o Vivaldo, um colaborador da minha antiga empresa que se suicidou em Janeiro de 2019. É certo que era introvertido e tínhamos uma relação meramente profissional. Mas 1 mês antes, na Festa de Natal, divertiu-se tanto como todos os outros - aparentemente.  

Falar sobre o Pedro Lima é falar sobre o meu irmão, que se suicidou aos 31 anos, em Setembro de 2017. Nós sabíamos aquilo por que ele estava a passar - depressão diagnosticada e medicada - e sim, havia sinais identificados pela família. Mas... O meu irmão ria-se. O meu irmão ia trabalhar todos os dias e era extremamente competente. O meu irmão era o pilar de muita gente. O meu irmão era uma rocha - só não sabíamos que a base da rocha estava frágil. 

Ler sobre o Pedro Lima, sobre o porquê, o não porquê, é ler sobre o meu irmão. Sobre uma pessoa que não demonstra sinais de tristeza evidente, que tem tudo para ser feliz, e mesmo assim é capaz de cometer suicídio. 

E admito - isto custa. Custa porque não preciso de me recordar dessa incompreensão. E custa porque a incompreensão não faz sentido. A depressão existe, o vazio existe, sem que, infelizmente, seja necessária uma "razão". E isso, acreditem, torna tudo ainda pior. Não seria tão mais fácil, para quem passa por esses momentos, conseguir resolver a questão com "eu tenho tudo para ser feliz, vou ser feliz" e voilá, adeus vazio, escuridão, buraco negro?

Era mais fácil. Mas não é assim tão fácil. A depressão é uma cabra, que nos come por dentro, tira-nos a energia, a vontade, a motivação, a capacidade. E o pior - fa-lo dentro de nós, sem evidenciar sinais no exterior. Assim, aos olhos dos outros, seremos apenas "preguiçosos", anti-sociais, lentos. 

Porque ainda existe estigma, pena, o que seja, por quem passa por estes movimentos. 

Em Março de 2018, depois do maior ataque de pânico no metro de Lisboa, em que, à hora de ponta, e sozinha, deixei de conseguir respirar e só chorava, tendo que sair e ir a pé até ao comboio (sei lá como), decidi começar a fazer terapia. Só em Janeiro do ano seguinte é que falei sobre isso com o meu chefe, para lhe pedir para, nesses dias, começar a sair a mais cedo. Eu tinha uma relação muito próxima com ele e ele foi, inclusiamente, a primeira pessoa com quem falei depois de a minha mãe me ter ligado quando o meu irmão morreu. E mesmo assim, não senti coragem para lhe falar sobre isto mais cedo. Porque, lá está, não queria passar por essa "pena". 

Mas isto é algo que tem que ser mudado. Bem, o Mundo tem que ser mudado. E a Saúde Mental tem que começar a ser cuidada. 

05
Jun20

Ingenuidade e Inocência

Miúda Opinativa

Por vezes, ponho-me a pensar em como fomos todos muito ingénuos e inocentes no início da pandemia, em que muitos de nós (a maioria) achou que em 15 dias, 1 mês, a coisa controlar-se-ia e a vida poderia voltar a alguma normalidade. E acho, sinceramente, que foi isso que facilitou o isolamento precoce e o encerramento de uma série de negócios. Porque se achou que seria algo verdadeiramente temporário e que em Maio, o mais tardar, estávamos todos na rua novamente. 

E eu não fui excepção. Cada vez que me lembro nas coisas que pensei e decisões que tomei no dia 16 de Março, penso que fui só incrivelmente estúpida. Ou inocente. Ou ingénua. 

Basicamente, no dia 12 de Março, soube que tinha sido seleccionada para este novo projeto profissional. Na sexta-feira, dia 13, comuniquei à minha chefe, que só iria comunicar ao cliente onde eu estava na semana seguinte. Assim, no dia 16, fui ainda ao escritório do cliente de manhã e depois mandaram-me para casa. Como, supostamente, só iria começar neste novo sítio no dia 15 de Abril, achei que ainda iria voltar ao escritório, talvez no início de Abril. Não deixei lá coisas pessoais, mas, enfim, deixei, por exemplo, material no cacifo. 

Como, lá está, achava que ainda ia regressar ao escritório, quando o ginásio me perguntou o que é que eu queria fazer à minha inscrição (estavam a perguntar aos sócios se queriam manter ou se queriam cancelar), eu disse para manterem até ao final de Abril. A ideia era poder usufruir quando regressasse ao escritório e depois, quando mudasse de empresa, poderia continuar a usufruir noutra unidade (embora depois me desse jeito mudar... Em Maio). 

Entretanto, como não queria ficar sem me exercitar e não conhecia o maravilhoso mundo do Fitness no YouTube, comprei alguns utensílios para fazer desporto em casa. Mas quando estava a pagar pensei "que estupidez. Estás a gastar dinheiro nisto para usares 15 dias". 

Ainda no campo "exercício físico", foi em Março que descobri, também, o Yoga with Adriane, de que já aqui falei. Comecei a fazer um plano de 30 dias no dia 17 de Março e passados uns dias, e percebendo que estava a gostar, pensei "opá, começaste a fazer isto de manhã, mas depois, quando voltares ao escritório, vais deixar de conseguir fazer". 

Pensava também, no início de tudo isto, que se calhar iria fazer a minha festa de anos algures em Abril. Ou que quando os meus pais fossem para o Algarve no Verão, iriam andar a falar sobre isto em tom de brincadeira com os vizinhos de toldo. Pensava muitas coisas. 

Mas passados 3 meses, percebo que aquilo que deixei no escritório há-de ficar por lá. E que paguei 1 mês e meio de ginásio sem lá ter posto os pés - e ainda não me inscrevi em mais nenhum. Percebo também que os halteres que comprei não são suficientes (precisava de uns mais pesados). E entretanto, já vou quase a meio do terceiro plano de 30 dias de Yoga. Não fiz nenhuma festa de anos e os meus pais, se forem ao Algarve, não vão ter o mesmo convívio com os amigos que tinham nos outros anos. 

Fomos todos um bocado ingénuos e inocentes. Ou burros. Ou avestruzes, a pôr as cabeças na areia. 

15
Mai20

Pronto, começo a ficar depressiva e triste

Miúda Opinativa

Ao final de 2 meses, começo a ficar depressiva e triste com a situação Covid / Pandemia / Isolamento / Mudança de hábitos. Tudo. 

É verdade que continuo a acreditar que esta experiência me trouxe coisas positivas. Comecei o Yoga, descobri que afinal consigo ir de minha casa até ao paredão a correr sem pôr em causa a minha segurança (o que me vai dar jeito quando... se... quando a vida voltar ao normal e no verão não conseguir estacionar ao pé da praia) e estou a pensar adoptar um cão. Descobri que afinal até me safo na cozinha e gosto. Voltei a ler com mais frequência e vi séries que estavam na To See há algum tempo. Foram dois meses com algumas coisas positivas. 

Mas passados 2 meses, começo a sentir-me a quebrar face à perspetiva dos próximos meses. Vejo a "novidade" dos semáforos na praia e sinto-me triste. Vejo a perspetiva da crise económica e sinto-me triste (e ligeiramente em pânico). Imagino-me a ir ao supermercado (não ponho os pés num há quase 1 mês) e sinto-me... triste. Não nado há 2 meses e sinto-me triste (e a natação, a par da corrida - e às vezes ainda mais que a corrida - é o que eu usava para me sentir menos triste). Sinto-me só triste. 

Às vezes penso "como é que chegámos até aqui, será que isto seria mesmo necessário". Sinto-me zangada. E sinto-me... Triste. Overwhelmed. Ansiosa. E a entrar num loop pouco simpático. 

08
Mai20

Mudança do Estado de Emergência para o Estado de Calamidade

Miúda Opinativa

Não sei. 

Até ver, a minha vida continua igual. Continuo a trabalhar em casa (e ainda bem), continua a não me apetecer ir às compras (e uma das 1001 vantagens de viver sozinha é conseguir abastecer-me para não ter que ir muitas vezes às compras... Boa gestão de matéria-prima e do espaço permite-me isto, ah ah!), tenho algum receio que a coisa piore mas entendo a economia não pode estar parada ad eternum

O que não significa que eu vá contribuir muito para este alavancar da Economia... Não me vou inscrever no ginásio tão cedo porque não me apetece stressar naquele que é um momento de lazer (estar à espera numa fila para entrar no ginásio não faz parte da minha natureza...). Não sei se vou voltar a ir a restaurantes e certamente não vou voltar a viajar tão cedo (snif...). No entanto, eu e o meu namorado já combinámos que podendo, em Outubro, quando eu puder tirar férias, passamos uns dias no Algarve, para eu lhe apresentar o Algarve para lá das praias (Yei! Ele é daquelas criaturas que não gosta do Algarve porque "não se faz nada e o que se faz não é grande coisa" - isto era razão para terminar, não era?), o que tem a vantagem de não precisarmos de marcar nada com antecedência... Tenho lá casa, basta pegar no carro e ir :) 

Também não me vejo a voltar a ir às compras de roupa, por exemplo, tão cedo (ir às compras já era algo que me enervava por várias razões) e posso continuar a comprar livros pela internet (já comprava antes do isolamento, durante o isolamento comprei alguns e assim hei-de continuar). 

Hei-de continuar a ir aos meus pais ao fim-de-semana (não havendo proibição de deslocações entre concelhos), mantendo a segurança e vou continuar as minhas consultas de psicologia online. A grande diferença face ao Estado de Emergência será, talvez, voltar a correr no Paredão. Correr na rua na minha zona não é fixe e sinto muita falta do Paredão. Mas se o vir muito cheio... volto para trás. Por isso, estou a rezar por fins-de-semana cinzentos e pouco convidativos a passeios. Ih ih ih! 

Aquilo que realmente me apetece fazer, sinto falta de fazer, vou continuar a não poder fazer. Que é estar com os meus amigos em jantares descontraídos. Ir à rua sem me stressar. Não ter que utilizar máscara. Não me achar neurótica quando estou com o meu namorado por eu ser mais cuidadosa que ele. 

Mas isso... isso não deve acontecer tão cedo. 

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