Apetece-me fugir. Desaparecer. Ir para um sítio sem internet, sem pessoas, sem nada. Só eu. Apetece-me desligar-me do Mundo, esquecer-me do Mundo. Apetece-me que o Mundo se esqueça de mim.
Hoje tornei-me na pessoa que nunca quis ser - que pensou "estou exausta, mas ainda bem que vou trabalhar, para não pensar na merda toda à minha volta". Na pessoa que utiliza o trabalho para fugir.
Estes dias - e já estou em casa há 37 dias, embora com algumas saídas - têm sido... Estranhos. E curiosos.
Um disclaimer que já toda a gente sabe: eu não sou um animal social. Eu gosto de estar sozinha. Gosto de estar sossegada a ler e a ver séries. Passei muitas noites em casa, a ver séries ou a ler, enquanto as minhas amigas estavam com os respetivos namorados. A minha solteirice crónica ensinou-me a estar na minha própria companhia - e a gostar da minha companhia.
De tal forma que tinha pena de não aproveitar mais a minha casa ao fim-de-semana. Porque na correria da vida e dos momentos sociais, não havia tempo para simplesmente ficar no sofá a molengar e a ler. Por isso, estes 37 dias em casa têm sido muito sobre isso - estar em casa e aproveitar a minha companhia. Já não me lembrava disso. Já não me lembrava de estar comigo mesma. E tem sido... bom. Não me interpretem mal. Claro que tenho saudades. Tenho saudades de estar com os meus amigos e a minha família. E de estar mais vezes com o meu namorado... Mas estranhamente, tem-me sabido bem estar sozinha. Acho que se calhar também estava a precisar disso e não me tinha apercebido.
Mas isto... É o copo meio cheio. Porque depois há sempre um copo meio vazio.
E que apesar de estar meio vazio, está cheio de preocupações. Preocupações sobre como e quando isto se vai resolver. E ter uma parte bastante céptica que não acredita que isto se vá resolver simplesmente e que apenas vamos ter um "novo normal"... E ficar preocupada com esse "novo normal". Preocupo-me comigo, com os meus. Ir às compras causa-me ansiedade. Os cuidados a ter causam-me ansiedade. Para quem sofre de pensamentos obsessivos e ruminantes, ir às compras e pensar em todos os cenários e todas as possibilidades é stressante. Eu optei por tomar precauções, sim, mas não a um nível extremo. Porque para pessoas como eu, o extremo pode tornar-se mesmo extremo. É quase como se fosse alcoólica, em que uma cerveja se torna num problema grande... A incerteza face ao futuro causa-me ansiedade. Nada disto é fixe.
Tento levar as coisas de uma forma mais ou menos descontraída e consigo... Se não pensar nisto. Mas quando penso, é problemático.